quarta-feira, 15 de abril de 2009

Grêmio jogará em local de torturas e assasinatos !

Estádio Nacional, palco da final da Copa de 1962, também foi usado como concentração de prisioneiros no governo do ditador Augusto Pinochet

O vazio das arquibancadas durante à noite aumenta o clima sombrio do estádio Nacional
No meio da madrugada, o silêncio de um gigante é rompido por gritos. Gritos de dor, de sofrimento, de sufoco. Eles saem de trás de um dos gols do Estádio Nacional, em Santiago, onde o
Grêmio enfrenta o Universidad de Chile na noite desta quarta-feira, pela Libertadores. A história até pode soar absurda com seus toques de sobrenatural, mas funcionários que trabalham no local juram de pé junto que é verdade.

São, dizem eles, os lamentos das vítimas de Augusto Pinochet, ditador que comandou o Chile entre 1973 e 1990, após dar um golpe de Estado que resultou na morte do então presidente socialista Salvador Allende. Inimigos do autoristarismo foram parar no estádio. Lá, foram torturados e, alguns, mortos.

- Muita gente fala sobre isso. Quem trabalha aqui à noite sempre comenta. Porque sempre acontece à noite. São gritos e ruídos que ninguém consegue ver de quem vem - comenta Mauricio Alencor, 41 anos, auxiliar de controle no estádio há cinco anos.

Os números reais referentes à quantidade de prisioneiros no estádio são incertos. No Chile, fala-se em até 40 mil. Foi só na última década que oficiais do Exército começaram a dar detalhes sobre as torturas e assassinatos no Nacional. O ex-oficial Roberto Saldias foi a primeira voz, no ano 2000, a confirmar mortes no local. Os detalhes que ele revelou são assustadores. Os presos, segundo ele, eram divididos em três classes: disco amarelo, disco roxo e disco negro. Os do segundo grupo eram exterminados lá mesmo, em um espaço que deveria ser destinado ao futebol.

Fantasmas dos torturados pela ditadura estariam circulando pelos corredores? Há quem acredite
O Chile não esconde o pior momento político de sua história. Há uma avenida em Santiago ainda hoje chamada de 11 de Setembro, uma referência à data em que Pinochet, em 1973, comandou o golpe contra Allende, com intenso bombardeio sobre a Casa de la Moneda, sede do governo local. No estádio, não é diferente. Atrás de um dos gols, de onde saem os supostos barulhos ouvidos pelos funcionários, parte da arquibancada segue de madeira, como lembrança às vítimas da ditadura. É o único espaço do Nacional que não passou por reformas.

- Já passou muito tempo, mas isso não se esquece. Jamais será esquecido. Sempre vai ter a família de um torturado ou de um morto para lembrar - afirmou Maurício Alencor.

Lembranças também positivas

A entrada do estádio onde o Brasil conquistou o seu segundo título mundial em 1962
Mas nem só de histórias tristes é formado um dos maiores templos do futebol sul-americano. O Estádio Nacional, construído no final dos anos 30, sediou a Copa do Mundo de 1962. O Brasil disputou ali a semifinal e a final. Ganhou de Chile e Tchecoslováquia para ser bicampeão mundial.

O estádio causa impacto. Por dentro ele parece mais novo do que por fora, fruto de recentes reformas. A capacidade é para quase 80 mil pessoas. A expectativa é de que cerca de 40 mil estejam no jogo entre "La U" e o Grêmio. As arquibancadas não são coladas ao gramado, o que ameniza a pressão sobre o adversário dentro de campo.


Fonte: Globoesporte

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